Eremita
Como estamos a entrar num fim de semana, a mensagem desta carta faz todo o sentido! Desligar um pouco do mundo, estar mais "comigo" e com os meus.
Porque andamos sempre muito ocupados. O trabalho ocupa-nos, a família ocupa-nos, o
lazer ocupa-nos. Todos temos milhares de coisas para fazer e estratégias para
não as perdermos de vista. E quando, por milagre, temos um momento de ócio…
enchemo-lo com qualquer coisa.
Parece que a maior parte das pessoas têm egos que se definem-se pelo que fazem e se não estiverem ocupados não
existem o suficiente. Na sua perspectiva é o grau de ocupação, lista de
afazeres, número de contactos no telemóvel que definem a sua importância.
Claro que há quem seja uma lástima a definir prioridades e quem se organize
melhor. Enquanto os primeiros correm de uma coisa para a outra, sempre deixando
pontas soltas e tarefas por acabar, os segundos, conseguem simplesmente
encaixar mais coisas na agenda. Mas, com mais ou menos stress e mais ou menos
eficácia, em ambos os casos estão sempre ocupadíssimos.
É certo que para a maioria de nós a vida é uma longa lista de afazeres, de intermináveis
e repetitivas tarefas que realizamos em piloto automático. Trabalhamos o dia
todo e quando paramos vemos televisão, bebemos copos, drogamo-nos (com drogas
legais ou ilegais) porque permanecer no momento presente é simplesmente
insuportável.
Esta “ocupacionite” é uma forma de preenchermos um qualquer vazio que erradamente
sentimos e que é mais uma forma que o nosso ego tem de desviar a nossa atenção.
Mesmo quando nos queixamos que não temos tempo para tudo, criamos mais
ocupações sem nos darmos conta, porque estar ocupados faz-nos sentir
importantes. E ser importante significa que não podemos parar, que não temos
tempo para ficar doentes, que nada funciona sem nós. Ser importante é uma
prioridade absoluta na nossa vida para que deixemos de nos sentir inexistentes. Porque será ?
Além disso, estar ocupados permite-nos evitar a realidade. Assim não temos
que ponderar a realidade da impermanência, a certeza da morte, a
inevitabilidade do sofrimento. Somos tão importantes e tão essenciais ao
funcionamento do mundo que não nos é permitido parar para reflectir – isso é só
para quem não tem nada que fazer.
Assim os anos vão passando sem termos percebido que nós, e
todos os que amamos (se tivermos tempo para amar) vamos morrer. Nesse dia toda
a gente irá passar sem nós. Todas as tarefas ficarão por terminar. E o mundo
certamente não irá acabar por isso.
Claro que não podemos riscar das nossas listas todas as ocupações que lá se
encontram. Temos que trabalhar, alimentar a nossa família e fazer as milhentas
coisas que daí derivam. Mas podemos tentar avaliar se tudo o resto é
verdadeiramente necessário ou apenas uma forma de nos sentirmos existir...
É bom de vez em quando parar, dizer "chega" e estar simplesmente só, para pensar, reflectir, sentir, estar só connosco. Experimentem, primeiro pode parecer estranho, assustador, mas com o tempo aprendemos que é assim que podemos encontrar paz interior e a resposta a muitas coisas que à primeira vista não vemos por causa do "barulho" do mundo.
Faz bem à alma!
Beijinho
Sem comentários:
Enviar um comentário